terça-feira, 2 de abril de 2013

Halloween - Mini Bibliografia



Um dos (vários) buracos que tenho no meu conhecimento da música lusófona é a minha falta de conhecimento profundo do hip-hop Português própriamente dito. Oiço nomes por alto – Da Weasel, Sam the Kid, Mind da Gap – mas nunca explorei com dedicação as suas músicas. Já com o hip-hop angolano não perco um álbum de todos os artistas que aprecio, já ouvi quase tudo que há para ouvir do moçambicano Azagaia, e aos poucos vou conhecendo melhor o hip-hop brasileiro. Mas quanto a Portugal, sou um zero à esquerda.
Mas há um rapper Português em particular cujo nome oiço falar há vários anos. O meu camba Butcha, o mesmo rapaz que me introduziu ao Valete falou-me de um rapper ‘estranho’ mas muito habilidoso que respondia pelo nome de Halloween. Um rapper que era diferente de todos os rappers que ele ouvia na altura. Por qualquer razão e não obstante a sugestão do meu primo, tive pouco interesse em ouvir as músicas do Halloween na altura. Alguns anos depois o Halloween foi para Luanda para delírio do público lá, é mesmo assim eu nada.
Foi como se um bichinho tivesse me mordido. Ando a ouvir o Halloween há dois meses, quase todos os dias. A tentar perceber as letras, a sentir-lhes, a acompanhar um ritmo das rimas, a conhecer o homem pela sua escrita. O Halloween, nascido em Bissau como Allen Pires Sanhá e também conhecido como Allen Halloween ou Bruxa, é completamente diferente de qualquer outro rapper lusófono que já ouvi. E no mundo do hip-hop de hoje, em que rappers parecem ser sócias um dos outros, isto é positivo. É difícil descrever o seu som, mas posso dizer que é do rap mais cru, real, e um tanto quanto radical (fiel às raízes), mas ao mesmo tempo consciente e introspectivo, que eu jamais ouvi. Num som está a rimar sobre roubar dinehiro duma velhota, no outro está a alertar aos mais jovens que a vida do crime não compensa. Pelo que ouvi, o mano é um tanto quanto anti-social e introvertido, e tem uma maneira muito dele e muito honesta de encarar a sua vida, sua e da sua crew. Assume o que é, sem pedir licença a ninguém. Nota-se que estamos perante um homem que viveu o que relata e é um producto dos piores bairros de Lisboa, os bairros de miséria onde habitam imigrantes africanos constantemente marginilazidos pela sociedade.

Pelas suas
entrevistas e pelas suas rimas o Halloween conta uma história de marginalização, drogas e crime, e ouve-se a dor, a angústia e a raiva na sua voz. Mas em alguns sons o mano também demonstra um certo sentido de humor. A maneira como ele voca é impar...a performance dele no No Love é particularmente memorável. Até agora ainda só ouvi o seu primeiro álbum, o Projecto Mary Witch.

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